sexta-feira, 8 de junho de 2012

Delírio humano

Em uma manhã fria, ele acordou. Fazia anos que ele não acordava de seu sono que muitos consideravam eterno. 
Sua primeira atitude foi sair da cama e ir até a janela de seu aposento. Diante do vidro embaçado por sua respiração, ele observava solenemente toda a paisagem devastada. Em seguida, seguiu para o banheiro e logo depois, vestiu seu famoso sobretudo preto. Ele sabia que havia muitos deveres, por isso se apressou e foi até a sala de jantar, onde pediu sua refeição.

Algum tempo depois, ele estava caminhando junto de outros e analisando todos os estragos. Alguns corpos decompostos ainda permaneciam no mesmo lugar desde o incidente. Os muros simplesmente não existiam mais e as casas eram apenas pequenas concentrações de escombros. De repente, ele parou em frente de uma porta que estava escancarada no chão. Os outros estavam confusos e apenas observaram ele se abaixando e pegando a maçaneta, como se fosse possível abrir a porta.

E era realmente possível abrir a porta. E atrás dela uma escada em espiral descia até onde os olhos não enxergavam mais. Sem hesitar, todos desceram e o último fechou a porta naturalmente. A penumbra sólida não impedia que eles descessem rapidamente a escada. Em pouco tempo chegaram no chão. Ele tossiu algumas vezes e por fim disse:

- Amim.

Repentinamente, um leve tremor começa e uma luz surge. Os outros procuravam o foco da luz, mas não encontravam de jeito nenhum. Ele prosseguiu.

- Amim, como se sucedeu?

Uma outra voz, rouca e profunda respondeu Ele.

- Colidiram-se. Em busca. Náder. Morte.

O silêncio em seguida tomou posse do local. Ele se tornou tão pesado, que pressionava os ouvidos dos outros. Cada vez mais pesado, até que se tornou palpável. Os outros caíram no chão e alguns perderam a vida. Os que restaram ansiavam a morte, mas permaneceram vivos.

- Entendo. Una sua Ghyelnër. Partirei amanhã ao amanhecer. E não esqueça. Há como sobreviver até o solstício.

- Cain. Impedir. Voltar. Esperança.

- Não, nada de Esperança. Ela irá atrapalhar nossos planos.

- Não. Motivo.

- Façamos o planejado. Não envolva circunstâncias externas. A Esperança é alguém que não se pode confiar na nossa situação. 

- Esperança. Dor. Não.

- Apenas faça. Não espere que ela vá ajudar. Eu a conheço bem. Ela é capaz de confortar, mas também pode iludir até a mim. Não quero que se envolva com ela até que tudo volte ao normal, Amim!

O Silêncio novamente virou palpável e dessa vez matou todos os outros. Ele seguiu para a escada. De volta para seu aposento, a paisagem permanecia morta. A única vida que existia naquele lugar era a Morte. Ele cumprimentou ela e disse:

- Amim irá cair. Prepare-se.

- Como sabes do futuro? Ainda mais do futuro alheio, algo que pertence somente a mim. A morte.

- Não vejo o futuro. Vejo fatos.

Ele seguiu seu caminho, enquanto a Morte ia para a porta da escada.

Não demorou muito para que Ele entrasse em seu aposento. Após completar seu banquete, encaminhou-se para seu leito. Foi até a janela e observou mais uma vez a paisagem da hecatombe.

Ao deitar-se, antes de fechar seus olhos, soltou um suspiro. Ele voltou para seu sono eterno.

Enquanto isso, Amim se envolvia com Esperança. Ao se beijarem, ela lentamente o abraça. Cego, Amim se aventura pelas curvas de Esperança e não nota ela sacar um punhal de sua cintura. Enquanto suas línguas se encontravam, Esperança furou-lhe as costas com o punhal e esboçou um sorriso de escárnio. Mais uma vítima. Ele tinha razão. E a Morte fez seu serviço.

- Pandora, que erro. Que erro.


Um comentário:

Dan disse...

Diferente... mas ainda tem seu toque sarcástico.
Colocarei uma catraca de ferro numa virgem em sua homenagem.

;D