quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Rascunhos não publicados

Há quem diga que o que não é evidente é sempre mais comovente.
Seguindo essa linha de raciocínio, resolvi publicar as postagens que nunca foram publicadas. Largadas no esquecimento deste blog como rascunhos. Quase todas postagens estão inacabadas por diversos motivos, alguns simplesmente por falta de paciência ou por carência de criatividade. Seja como for, espero que abstraiam do final físico e encontrem um final por si próprio, a final, o autor tem preguiça de o fazer.


Claustrofobia social
Todos aparentavam serem iguais. Sempre com dois braços, duas pernas, dois olhos, duas faces. Ninguém era quem realmente parecia. Eles eram feios e falsos. Olhar nos olhos destes seres era como trocar de sentimentos com o vazio.
Pietro era a encarnação da inocência. Sua família era pequena, formada apenas por sua mãe e seu irmão mais novo. O resto simplesmente desapareceu nas dunas do esquecimento. O garoto acreditava nos Sentimentos, uma espécie de heróis que salvava o mundo, nas histórias que sua mãe contava para ele antes de dormir.
Certo dia, Pietro foi para a escola atrasado e acabou perdendo o ônibus. Então, decidiu esperar o próximo. Enquanto aguardava, ele observou as pessoas que o cercavam. Havia uma senhora que vestia um manto que cobria seu rosto, dando para ver apenas seus olhos. O resto de sua roupa cobria todo o corpo. O garoto observou atentamente todos os detalhes da senhora e encarou os olhos dela.
- O que foi? Ela indagou solenemente.
A senhora está com frio? Perguntou inocentemente.
A senhora, simplesmente ignorou a pergunta e fez sinal para o ônibus que se aproximava.
Pietro foi atropelado por um homem imbreagado e faleceu na hora.

Sem Título
Havia uma época em que um jovem garoto vivia sua pré-adolescência com tristeza e ao mesmo tempo, rindo.

Me dê um motivo para não ir

A maldita vontade de permanecer neste mundo é tão insistente que preciso me conter para não morrer sem querer. Já dizia um grande filósofo cujo nome permanece intacto, mesmo após milênios: Aristóteles; "Toda a coisa necessária é por natureza aborrecida.". Viver é necessário?
Me contradizer é tão fácil como não me contradizer, só que é mais corriqueiro. Enfim, odeio ter que pedir ajuda para as pessoas quando preciso de ajuda, mas acho que não há escolha. Preciso de ajuda.

Tudo começou algum tempo atrás. Como tudo na vida, nada pode ser desfeito. Muito menos quando outro indivíduo é envolvido. Esse envolvido foi um conhecido meu, ele se chamava Ítalo. Ele era adepto aos costumes de consumir drogas em parques à noite. Eu, como um bom cidadão, denunciei ele e seus companheiros. então eu morri,.

Lery o meni

Existem dentro de cada um de nós diversos métodos de auto-preservação.
Um dos quais é o bloqueio, que impede algo de inesperado aconteça. Infelizmente, nenhuma pessoa viva teve a capacidade de testemunhar tamanha divindade cujo nome não será citado.
Entretanto, através de diversos estudos e pensamentos teóricos sobre o assunto, um Designer francês, chamado Fló - mundialmente conhecido pelo projeto de uma privada funcional que nunca ficava riscada de fezes - recriou a imagem, de exata semelhança com um potre. Este marco na história de todo o país ficaria marcado por ser exatamente um marco na história de todo o país.

Consolidando o tempo como uma arma

Obstruir a passagem de ar de uma senhora de setenta e quatro anos de idade era algo que pertencia ao cotidiano de Pedro. Nunca em sua vida a morte o incomodou. Pelo contrário, ele sempre achava alguma forma de se aproximar dela. Quanto mais próximo do eterno descanso, melhor.
Tudo começou aos 11 anos, quando foi atravessar uma avenida desprevenido e quase foi atropelado por um ônibus. A partir desse dia, sua vida não seria a mesma.
Após algum tempo, começou a sentir um grande desejo por perfurar, amassar, dilacerar e arrancar fora seu pênis. Era uma vontade distinta, lhe proporcionava prazer e muita satisfação. Começou com um palito de dente, entrando em sua uretra de maneira suave e praticamente natural. Mas algum tempo depois, o palito de dente não era o suficiente, era preciso algo mais grosso, e mais longo. Os objetos foram alternando, até que no dia 22 de Outubro de 2008, Pedro foi internado no hospital das clínicas de São Paulo para uma cirurgia. Uma chave de fenda havia perfurado seu pênis.
Pedro é um exemplo de pessoa que não era feliz com sua vida. Entretanto, o suicídio era algo que poderia acontecer a qualquer momento, exatamente por isso, não fazia sentido acabar com a vida de uma vez. Ao longo de sua adolescência, percebeu que a vida poderia proporcionar sentimentos e sensações magníficas, se fossem buscadas através de diferentes tipos de ações e métodos. Essa era sua unica motivação para permanecer neste mundo.

Sem título

Me sentei sem roupa na cadeira. Alcancei o notebook e comecei a teclar sobre meu dia. Mas de repente uma coruja apareceu na janela da sala. Fiquei observando o animal majestoso até que o mesmo projeta seu olhar para mim e começa a falar:
- Nada disso que você está presenciando é real.

Neste instante meu coração parou. A voz solene e áspera da ave simplesmente me deixou em estado de choque. Ela prosseguiu.
- Exatamente por isso, sou irreal. Entretanto, tenho o dom de pensar, o que anula minha afirmação anterior. Se penso, logo existo. Intrigante, não?

O que ela dizia fazia muito sentido, a pesar de não fazer sentido.

- Enfim, me chamo Ënyú'd. Sou uma coruja e tenho 108 anos.

Finalmente, recuperei meus sentidos mentais.
- Olá, me chamo Bernardo, sou uma pessoas que tem 45 anos.
- Eu sei muito bem quem você é. Todo dia fico vendo você. Desde o dia de seu nascimento; na verdade, foi por isso que sigo você: te sigo porque é engraçado.
- Como assim?
- Eu não tenho nada para fazer, descobri que sou imortal, logo, passo o tempo acompanhando as pessoas vivendo.
- Nossa, mas e por que você apareceu hoje para mim?
- Porque você está pelado escrevendo em seu diário.

A partir deste momento, não lembro de mais nenhum detalhe. As lembranças seguintes foram alguns dias depois, quando acordei, ainda nu, em um viaduto; onde seis garotos de rua se masturbavam com minha imagem. Apesar disso, estava bem. Quando voltei para casa, notei que o mundo havia acabado. Tudo que existia simplesmente se tornou pó e o que restou exalava um cheiro de beiço. Beiço era algo parecido com o que você tem na boca, só que misturado com sêmen e um pouco de amor e carinho, geralmente entre dois sexos distintos, mas há indícios de sexos iguais, também.

Mais tarde, fui procurar comida. Adentrei a selva de concreto com cheiro de beiço. Tudo parecia morto. Prédios quebrados, ruas rachadas e escuras. Eu estava sozinho. E aquelas crianças também.
Pedofilia.

Sem título

Aquela tragada de vodka desceu bem. Fazia tempo que eu não bebia. O motivo pelo qual voltei a beber foi ter reencontrado ela. Ela, no caso é Raquel.
Raquel foi o amor de minha vida; mas não era uma mulher, era uma subespécie de jacaré com algumas modificações genéticas.

Epifanias

Oscar tinha criado expectativas
tinha caído na ilusão
é idiota e bundão
Não precisa de justificativas

O dia em que o homem nasceu boi

Felipe era um estagiário feliz. Construia casas e fabricava pessoas em vidros. Sua vida era bastante rotineira e rítmica, uma vez que ele desenvolveu um toque nervoso que o tornava bastante repetitivo em um período de tempo de trinta segundos.
Um dia, Felipe havia se deparado com um assassinato em frente a uma delegacia. Ele achou engraçado porque a vítima havia sido esfaqueada no rosto e no reto. Ao se aproximar do defunto, o estagiário vomitou em cima. Algumas pessoas que estavam observando se puseram a rir. Um senhor, de 76 anos ficou indignado com o comportamento inadequado de Felipe e o reprimiu por seus atos imorais.

Sem Título
Teo gostava de pitangas. E um dia decidiu adquirir uma caixa delas. Caminhou até o mercado e comprou. Na hora de pagar notou que estava sendo observado por seis homens que estavam sem as pernas. Ele começou a rir incessantemente e correu até o estacionamento.

Sem Título
Eu nasci de uma sensação proveniente de um olhar furtivo. Algo que não foi recíproco propositalmente. Eu não esperava existir naquele momento, contudo simplesmente fui evocado. Em função disso, consumi tudo ao meu redor. Evidentemente, estraguei a vida de milhares de pensamentos e vontades. Sou uma existência bastarda. 


Acabou.








quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

A verdade absoluta

Era mais uma manhã monótona para Renato. Após terminar seu turno como recepcionista do hotel, foi para casa, como sempre. No caminho, entretanto, se deparou com uma pequena imagem que apareceu em seu pensamento, sem motivo aparente.
Enquanto caminhava em direção ao ponto de ônibus, ele observava a imagem em sua mente. Ele nunca tinha visto algo assim, e nunca pensara em algo do gênero, como é que aquilo surgiu em sua mente? Ele pensava.
A imagem, distorcida e com cores vivas que transmitia uma emoção tão intensa era ao mesmo tempo sutil e frágil.  Renato parou de caminhar e, com um olhar perplexo, fitava o horizonte.
A imagem era tão chocante que ele se deu conta que toda sua vida era algo insignificante. Durante alguns segundos Renato se sentiu como se a razão de todo o universo tivesse se concentrado diante de seus olhos e exposto a verdade eterna apenas para ele.
Toda essa massa de verdade se acumulou sobre sua cabeça, o forçando a ficar de joelhos e em seguida de quatro. Ele sentia todo o mundo a sua volta.
Era um sentimento único.

Renato esboçou um sorriso que foi manchado por um risco de saliva que escorria pelo canto de sua boca.
A saliva foi escorrendo cada vez com maior intensidade, até que de repente ela começou a se esbranquiçar e tomar toda a boca do homem.
Neste instante, ele inclinou sua cabeça para o lado, ainda sorrindo e com os olhos vazios e sem expressão.

A verdade absoluta que havia surgido daquela surpreendente imagem agora forçava Renato a se deitar, em função da pressão que é exercida sobre ele.
De repente, tudo pára. Renato se torna a pessoa mais pura e sábia de todo o universo. Para ele, todos os problemas da humanidade são apenas pequenos impasses.

Entretanto, uma pressão em sua cabeça, abre sua boca e agarra sua língua.
O que é isso? Pensou ele.
Sua língua de repente é puxada com muita força para fora de sua boca enquanto a mesma é aberta a força.
Só pode ser Deus querendo extrair a verdade de mim. Deduziu.
Neste momento, sua língua estava quase sendo arrancada fora.
DEUS, SEU MISERÁVEL, ME PROPORCIONA ESTA DÁDIVA E LOGO EM SEGUIDA QUER RETIRAR DE MIM? SEU...
Uma foça chocante e sobrenatural invade o corpo de Renato. Essa energia é tão forte que todos seus músculos enrijecem. E seus olhos fecham como se sua vida fosse sair por eles.

Ao abrir os olhos, uma luz ofuscante cega Renato por um instante.
Devo ter morrido, imaginou.
Ao recuperar sua visão, notou estar em uma sala de hospital.
Ao seu lado, sua mulher, Renata, está dormindo.
Ele a acorda e pergunta o que aconteceu.
A mulher, surpresa com a cena, se projeta em cima de seu marido e começa a chorar.
"Você sofreu um ataque de epilepsia".

E por um instante, Renato entendeu tudo.
Ele não tinha atingido o Nirvana, nem muito menos soube a verdade absoluta.