quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

A verdade absoluta

Era mais uma manhã monótona para Renato. Após terminar seu turno como recepcionista do hotel, foi para casa, como sempre. No caminho, entretanto, se deparou com uma pequena imagem que apareceu em seu pensamento, sem motivo aparente.
Enquanto caminhava em direção ao ponto de ônibus, ele observava a imagem em sua mente. Ele nunca tinha visto algo assim, e nunca pensara em algo do gênero, como é que aquilo surgiu em sua mente? Ele pensava.
A imagem, distorcida e com cores vivas que transmitia uma emoção tão intensa era ao mesmo tempo sutil e frágil.  Renato parou de caminhar e, com um olhar perplexo, fitava o horizonte.
A imagem era tão chocante que ele se deu conta que toda sua vida era algo insignificante. Durante alguns segundos Renato se sentiu como se a razão de todo o universo tivesse se concentrado diante de seus olhos e exposto a verdade eterna apenas para ele.
Toda essa massa de verdade se acumulou sobre sua cabeça, o forçando a ficar de joelhos e em seguida de quatro. Ele sentia todo o mundo a sua volta.
Era um sentimento único.

Renato esboçou um sorriso que foi manchado por um risco de saliva que escorria pelo canto de sua boca.
A saliva foi escorrendo cada vez com maior intensidade, até que de repente ela começou a se esbranquiçar e tomar toda a boca do homem.
Neste instante, ele inclinou sua cabeça para o lado, ainda sorrindo e com os olhos vazios e sem expressão.

A verdade absoluta que havia surgido daquela surpreendente imagem agora forçava Renato a se deitar, em função da pressão que é exercida sobre ele.
De repente, tudo pára. Renato se torna a pessoa mais pura e sábia de todo o universo. Para ele, todos os problemas da humanidade são apenas pequenos impasses.

Entretanto, uma pressão em sua cabeça, abre sua boca e agarra sua língua.
O que é isso? Pensou ele.
Sua língua de repente é puxada com muita força para fora de sua boca enquanto a mesma é aberta a força.
Só pode ser Deus querendo extrair a verdade de mim. Deduziu.
Neste momento, sua língua estava quase sendo arrancada fora.
DEUS, SEU MISERÁVEL, ME PROPORCIONA ESTA DÁDIVA E LOGO EM SEGUIDA QUER RETIRAR DE MIM? SEU...
Uma foça chocante e sobrenatural invade o corpo de Renato. Essa energia é tão forte que todos seus músculos enrijecem. E seus olhos fecham como se sua vida fosse sair por eles.

Ao abrir os olhos, uma luz ofuscante cega Renato por um instante.
Devo ter morrido, imaginou.
Ao recuperar sua visão, notou estar em uma sala de hospital.
Ao seu lado, sua mulher, Renata, está dormindo.
Ele a acorda e pergunta o que aconteceu.
A mulher, surpresa com a cena, se projeta em cima de seu marido e começa a chorar.
"Você sofreu um ataque de epilepsia".

E por um instante, Renato entendeu tudo.
Ele não tinha atingido o Nirvana, nem muito menos soube a verdade absoluta.

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