domingo, 27 de maio de 2012

Charles e a Secadora

Na escola Manuel Duarte Ramos, durante o recreio, a sala da terceira série do ensino médio estava bastante agitada. Miguelzinho brincava com um mesanino no tapete, Cheiso assustava as irmãs com um rolinho, um grupo jogava baralho, e todos em geral encontravam-se razoavelmente felizes, apesar da iminência de uma vida sem sentido para todos. Thomas aproxima-se de Patrícia:
 -Empresta-me um  patins?
 -Ok. Tá ali na mesa.
Ele foi. Só.

Debaixo do assoalho, Mateus tinha encontrado uma senhora, e tentava falar com ela. Mas a mesma havia falecido em 1987. Bate o sinal anunciando dezesseis horas e 43 minutos, quando começa a aula de seicho-no-ie. Os alunos faltantes seriam todos mandados ao chafariz da praça, onde seriam torturados por meio de psicologia inversa. A aula é interrompida por um lençol que chega desavisado. Aproveitando a brecha, os alunos fogem. Mateus e seu amigo Pedro correm alegremente sob o céu azul da primavera, sentindo-se imortais. Infelizmente Pedro viria a se tornar fumante e morreria de câncer aos 48 anos.

A euforia é interrompida quando uma moto surge empinada, e o piloto perde o controle, vindo a bater em uma bacia. Bianca vê aquilo horrorizada, e comenta:
 -Puta que o pariu.
O motoqueiro, indignado, responde:
 -Sim!

Mas o destino não deixaria. Quando o dono de uma peixaria ali perto vem ver o ocorrido, já não há mais ninguém ali.
 -Ah, cara! Nãããão! Filhdo da puta dsauvd hn²/¹n gfsdv
São as suas últimas palavras pelas próximas 2,36 horas, quando finalmente vem um cliente comprar um filé de cação. Em outro ponto do país, um pai bêbado bate na filha e na esposa. O pai chama-se Hideo, a mãe Saoru, a filha Mikuru.


quarta-feira, 23 de maio de 2012

Numa Manhã Fria de Outono

Numa manhã fria de Outono, um homem levantou-se da cama mais cedo porque simplesmente não conseguia voltar a dormir. Foi até a janela e observou da janela a cidade amanhecendo. O imenso alvorecer tingia de laranja os prédios e as poucas árvores que restavam na paisagem. Aquele foi um momento ímpar na vida do homem, que por um momento, sentiu o real sentido da vida. Obviamente, esse instante foi interrompido por um telefone que começou a tocar.

Do outro lado da cidade, um mendigo observava deitado no chão, ainda sobre o efeito do álcool, o céu alaranjado que se esvaía lentamente.  Mesmo ligeiramente debilitado, ele percebeu que havia algo diferente no céu naquela manhã. Mas, antes que pudesse raciocinar o que era exatamente o extraordinário no céu, um policial o afugentou para outro lugar.

Nessa hora, em uma casa de classe média, uma pequena garota levanta para ir à escola. Enquanto espera seu leite esquentar, ela encara admirada o imenso céu alaranjado. Prontamente pegou seu celular e tirou uma foto para compartilhar com seus amigos e foi tomar seu leite.

Naquele dia, ninguém tinha percebido que o céu estava laranja.
Nem os daltônicos.