quinta-feira, 22 de março de 2012

O sentimento esquecido

- É a ultima lata, prometo.
- Como assim ultima lata? Eu quero que você pare de beber essa merda agora!
- Eu quero que você cale a boca agora, deixe eu beber, porra!
- Aff, como você consegue ser tão imbecil?
- Aprendi com sua mãe.
- !

Dei mais um longo trago na minha cerveja e depois coloquei na mesa e olhei para frente, onde havia uma prateleira com diversos tipos de destilados. Meus olhos desfocavam e focavam diversas vezes. Eu me sentia alto e um tanto leve. Todo gole que eu dava daquela cerveja, era um passo mais longe da responsabilidade. Minha filha, de 19 anos, tentava me tirar do bar, mas eu realmente não queria. Entretanto, dentro de mim, a sanidade gritava, tão alto quanto minha embriagues.

- Filho da puta! Para de se isolar dos problemas, enfrenta essa merda que nem um homem!

E minha embriagues respondia:
- Não me enche o saco.

Quando olhei para o lado, minha filha já tinha ido embora do bar e quem estava do meu lado, era um vizinho que trabalhava como taxista.
 Levei mais uma vez a lata até minha boca e fechei os olhos. A cerveja descia suavemente por minha garganta. Quando a bebida acabou, me levantei e paguei a conta. Saí do bar e fui até minha casa.

Já era de madrugada, o céu estava limpo e com algumas estrelas.  Ao invés de ir para casa, andei até a pracinha que tinha na esquina. Sentei-me em um balanço e fiquei observando o nada.

O nada. Era parecido com o que eu sentia quando me olhava no espelho. Quando pensava em alguma qualidade minha. Quando sentia aquela dor no peito. O nada.

Era engraçado, eu hoje, com quase 50 anos, ainda sinto o que me matava na adolescência. Mas, em compensação, também sinto o que me fazia continuar vivendo na adolescência.

De repente, me recordei das tardes que passava sozinho em casa. Todo aquele vazio, toda aquela melancolia. Solidão. Repentinamente, uma leve excitação que sentia tomou conta de mim. Era como relembrar os tempos dourados da vida. Não hesitei em exercitar o que não praticava a tempos.
Aproveitei o nada que dominava o recinto e comecei o ritual.

Não lembrava que punheta era tão bom.

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