domingo, 9 de outubro de 2011

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Caetano estava bêbado. Sentado num canto, olhando para o chão, sorria sozinho. Roberta passou por ele, lançou-lhe um olhar distraído e continuou andando. Desde que sua mãe morrera, Caetano bebia muito. Quando bebia era mais extrovertido, aberto, mas no fundo estava a anos-luz de distância de se conectar de verdade com alguém. E dessa vez ele tinha exagerado.

"Cara, vamos embora, tu tá muito mal." Era André, seu melhor amigo. "Tá", Caetano respondeu. Estavam na festa de aniversário do Pereira, e depois de se despedir de várias pessoas q Caetano não lembrava quem eram, partiram. Foram a pé, já que a noite estava bonita e a distância era de meros 19 quilômetros. Mal sabiam, mas naquela noite os dois rapazes se tornariam homens.

De longe, Roberta observa-os indo embora com fingida indiferença. Estava grávida há dois dias, embora ainda não soubesse. Seu pai cometeria suicídio ao saber, e Roberta morreria no parto. O filho, de pai desconhecido, já nasceria morto. Mas isso tudo ainda estava no futuro, e no momento Roberta era apenas uma adolescente comum, e relativamente feliz.

Caminhando, André e Caetano conversavam. André pergunta:
"Meu, a Roberta te deu um fora?" Ao que o amigo responde:
"Sim, cara, por que ela fez isso comigo?"
"Tu tava sem calças quando foi falar com ela."
"Ah."
"Mas olha pelo lado bom, pelo menos -AH, UM URSO!"

Caetano olha para a frente, assustado. Um enorme urso se prostrava diante deles, no meio da estrada. Estava de pênis ereto. André lembra de uma dica que vira no programa do Bear Grylls: se fingir de morto. Os dois fazem isso. O urso se aproxima, cheira-os, e copula com Caetano. Ele chora baixinho enquanto o agressivo animal rasga-lhe o esfíncter. Depois, o urso prepara-se para fazer o mesmo com André, quando de repente surge uma camionete. O veículo para ao lado deles, e de dentro sai um homem barbudo de chapéu de palha. Ele é Valcir, tem 57 anos e é agricultor. Com uma espingarda, mata o urso. Depois oferece uma carona aos agradecidos rapazes.

No caminho vão conversando e se conhecendo melhor. André nota a maneira como o agricultor o olha, desejoso. Levam Caetano até sua casa, onde ele continua bebendo, visando morrer. Mas ele não tem tanta sorte. A vida é cruel, e as vezes nos deixa sobreviver. Acaba vivendo até os 74 anos, uma vida na qual uma ou outra viagem de férias são o mais próximo da felicidade que ele chega. Acaba tendo uma esposa, pela qual não é realmente apaixonado, mas tem certa empatia. Têm um casamento comum, um único filho, e vivem juntos até o final. Juntos, mas não necessariamente unidos; apenas empatia.

Mas, de volta ao presente, após deixarem Caetano em casa, Valcir e André se olham. A mão do agricultor está no joelho do rapaz, e os dois se beijam longamente. Valcir o convida para fugir com ele, convite que o jovem prontamente aceita. Vivem felizes por dez anos numa fazenda afastada, até que ambos morrem num incêndio que destrói a propriedade.

E, alheio a tudo isso está Celso, que também fora ao aniversário, e que esqueci de botar na história antes. Ele tem que estudar, mas fica escrevendo merda num blog horrível e pensando em mulher por tempo demais para seu próprio bem-estar. Resignado, volta a ouvir música, que isso sempre ajuda.

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